Atualização do WhatsApp facilita fake news

A função “Comunidades” do WhatsApp tem um grande potencial para a viralização de conteúdos políticos com desinformação que circulam no aplicativo de troca de mensagens. O alerta é de pesquisadores e advogados especialistas em Direito e comunicação digital.

O risco de a ferramenta facilitar a propagação de desinformação também foi citado em um ofício enviado, no ano passado, ao WhatsApp pelo Ministério Público Federal (MPF). Na ocasião, em meio ao risco de impacto nas eleições, o órgão solicitou o adiamento da implementação do recurso para o início deste ano, o que foi acatado pela plataforma.

Professor da FGV Direito Rio e coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, Luca Belli diz que os mecanismos de segurança da plataforma tornam o rastreamento de conteúdos na nova ferramenta ainda mais difícil:

Pode ser particularmente pernicioso em termos de divulgação de fake news e ainda mais que em redes como Telegram, Facebook e o Twitter, porque essas redes são abertas, ou seja, a divulgação para seus canais não é sujeita a criptografia, diferentemente do WhatsApp.

Também existe a possibilidade de membros de uma comunidade transitarem em diferentes grupos que compõem essa nova rede. Nessa lógica, um usuário pode ir de um grupo para outro facilmente. “Isso permite que o usuário entre em grupos aos quais não se teria acesso” explica o professor de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia David Nemer. A ferramenta é uma forma de organizar e melhorar a circulação de informações. Mas vivemos um problema sério no qual tudo que toca na circulação de informação facilita também a desinformação.

Pulverização acelerada

João Guilherme Bastos dos Santos, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) vê uma maior propagação de desinformação. Um estudo publicado por Santos e outros pesquisadores em 2019, com base nas atividades de 90 grupos de WhatsApp nas eleições de 2018, apontou que a difusão viral de mensagens falsas sobre o pleito está ligada justamente à interconexão de grupos por participantes em comum:

Quando passa de 256 para 5 mil o potencial de alcance do WhatsApp, passamos a ter grupos gigantescos que aceleram a viralização. É uma mudança significativa. Há potencial de apropriação disso por grupos que disseminam desinformação política. Se você manda um vídeo e os usuários fazem o download, passa a ter várias réplicas dele. Você acelera o processo.

O advogado Diogo Rais, professor de Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em direito digital e eleitoral, defende que a medida facilita alcançar mais usuários, mas não cria um poder novo, já que antes era possível fazer o mesmo de forma pulverizada, até mesmo com auxílio de ferramentas automatizadas:

As comunidades organizam aquilo que de uma certa maneira era possível de modo pulverizado. Elas facilitam a propagação, mas essa organização em subgrupos, por outro lado, ainda que se mantenha a criptografia, pode facilitar encontrar e compreender qual a conta responsável que opera aquela grande comunidade. É uma atuação mais centralizada.

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